Acordamos com o corpo doído, com a cabeça pesada e a voz
rouca. O Flamengo nos castiga e nós gostamos desse sofrimento porque geralmente
as recompensas também são no atacado. É o ônus e o bônus de torcer para o maior
clube do Brasil. Falo isso com toda convicção do mundo. Mas nos últimos 30
anos, portanto, muitos dos que estão lendo não eram nem nascidos, a
Libertadores tem sido uma usina de crises e decepções. Ganhamos bonito quando
participamos pela primeira vez e de 1981 pra cá, amargamos todos os tipos de
eliminação, todos. Vá a prateleira do supermercado da bola mais próximo e
escolha a menos dolorida.
-nas semifinais dentro de casa
-nas oitavas de final
-nas quartas de final
-na primeira fase
-tendo que ganhar por tres gols de diferença
-podendo perder por dois gols de diferença
-contra bons times
-contra times medíocres
Escolheu? Pois é…temos que admitir que a Libertadores é uma
realidade muito distante pra nós que, infelizmente não aprendemos com as
seguidas lições que a competição mais importante do continenente nos ensina.
Não é fácil ganhar, claro que não, mas geralmente quando entramos pra
disputá-la raramente estamos bem preparados. raramente. Vá ao supermercado da
bola mais próximo e escolha a bagunça menos barulhenta.
-tecnicos coadjuvantes
-elencos bisonhos
-brigas internas
-diretores fanfarrões
-vaidade
-falta de profissionalismo
-planejamento débil
-menosprezo por adversários
Escolheu? Pois é…deixando toda a paixão de lado e olhando
pra trás com os olhos da razão, tá na cara que o Clube de Regatas do Flamengo
NÃO quis disputar pra valer a Libertadores depois que a conquistou no início da
década de oitenta. Lamentavelmente os erros se repetiram e ninguém os corrigiu.
A turma que se acha acima do bem e do mal, que comanda ou comandou nos
gabinetes acreditou no velho slogan de botequim: “isso aqui é Mengão, porra”.
Santa ingenuidade ou diabólica incompetência. É maravilhoso ser MENGÃO, mas pra
quem tem que fazer a roda girar não basta. O velho slogan de botequim precisa
crescer, precisa ganhar novas palavras. Que tal: “isso aqui é Mengão, porra,
temos CT. Nossos craques treinam. Gastamos o que podemos pagar. Nossos
diretores não usam o clube pra outros fins.”
Quando o ridículo time do Emelec marcou o terceiro gol, nós
ficamos decepcionados, ristes. O coração apertou e o sono sumiu. A sexta-feira
13 trouxe de volta todos os nossos fantasmas. Escolher o tecnico como culpado e
demití-lo é fácil. Eleger tres ou quatro jogadores como vilões, idem. Talvez
mereçam mesmo. Nem o Joel e muito menos o elenco foram capazes de dar respostas
no campo. Mas ainda assim…não fecharemos essa ferida chamada Libertadores com
medidas paliativas. É a mentalidade que precisa mudar. Novas idéias. Novos
nomes. Compromisso. Seriedade. Menos politicagem. Oposição versus situação. Mas
não são todos rubro-negros?
Não tenho chapa. Não apoio candidato algum. Sou Flamengo.
Amo o Flamengo. E aposto que nenhum joagador ou dirigente, hoje, está sofrendo
mais do que o torcedor. O garoto que foi a escola e teve que ouvir os
amiguinhos tirando sarro…tá sofrendo. O trabalhador que levantou cedo e encarou
o ônibus lotado…tá sofrendo. O professor que foi dar aula e por vezes se viu
pensando na noite que passou…tá sofrendo. O empresário que abriu o jornal na
farta mesa do café da manhã e leu sobre a eliminação vergonhosa…tá sofrendo. A
nação rubro-negra tá sofrendo.
Amanhã a dor vai passar. Talvez ate hoje a noite, a dor já
tenha passado. Mas na quarta-feira, quando a Libertadores recomeçar, vai bater
uma certa angústia de saber que novamente jogamos uma oportunidade fora. Mas
que fique claro que não jogamos na noite de ontem. Aliás…não fomos nós. Eles
perderam a chance de tentar entrar pra história. Uma história da qual NÓS
sempre fazemos parte como protagonistas. Uma história pra poucos e que alguns
do que estão vestindo o manto ou fingindo comandar o clube não conhecem e não
merecem fazer parte dela. Tenho certeza de que vamos ganhar novamente a
Libertadores, certeza absoluta, mas temos que ter gente lá que sonhe como a gente.
No campo. No gabinete.
Saudações
Bernardo Costa - http://globoesporte.globo.com/platb/arthurmuhlenberg/
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